Oreste Maurizio Regispani - Mensagem Rústica da Mãe Velha
E foi ainda ontem
que Noêmi molhou com os olhos
a tinta do manuscrito que dizia:
"Tão longe, meu filho,
porque estás tão longe
não posso senão ver-te com o meu coração
e dizer-te que por não te ver mais uma vez,
beijar-te ainda a face,
vivo compassando até chegares...
"Como é longe a América
para que eu possa estender-te um braço.
Se pelo menos morasses no horizonte
estender-te-ia um olho
e veria o lugar onde habitas.
Sentiria meu filho perto
como quando eras um pedacinho de vida
dentro de mim....
"Estou envelhecida,
sem dentes,
sem juventude na carne e sossego,
sem grandes dias para suspirar futuros...
Estou envelhecida, filho,
que não mais me reconhecerias,
não fosse eu tua mãe e tu meu flho.
Não fosse meu amor,
não me reconhecerias mais...
"As fotos já são tão velhas
(como me conheces bonita)
mas agora sou a mãe envelhecida.
Tu deves ser grande, alto, jovem
e jovem e alto e grande — és o que fui
antes de ser tua bela mãe...
"Sou rústica de trabalhar e trabalhar.
Sabes, alguém olhou aquela foto
que conservo na sala, e me perguntou:
— quem é este moço tão moço e tão belo?
— este belo tão belo e tão moço...
quase disse que era meu neto...
Mas eras tu! Porque já sou tão velha,
branca, murcha, longe...
"Mesmo longe no tempo e no espaço,
serei mãe, filho, e como precisaste um dia
de mim para seres homem,
para nasceres pequenino,
para cantares teus primeiros choros
em meu regaço, como precisaste de mim!
Agora, meu filho, ajuda-me a morrer;
se me deres um beijo e me bendizeres..."
Da velha Europa
minha rústica mãe me acariciou,
como se eu pudesse nascer mais uma vez...
Porque novamente eu nasceria com os olhinhos verdes,
com os cabelinhos anjos.
Novamente nasceria seu filho.
Coisas novas aprendi,
gentes conheci,
cresci também,
iniciei o ofício poemático.
E, mãe,
se eu não pudesse ser poeta,
se eu não pudesse ser homem,
se eu não pudesse ser teu filho...
como tu, quereria também ser mãe:
teria uma filhinha que se chamaria
Noêmi.