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Marcos Resende Amigos

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Oreste Maurizio Regispani - Esquina Anciã ou 7 de Março

Fanco Puliti 03.jpg

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Na esquina encontrei um pecado,
presente sempiterno da vida, que encontrei, ali,
na próxima esquina.

No meu bom tempo, com duas travessas escuras, fazia-se uma boa esquina:
no velho tempo,
de meu velho avô,
porque viviam de vida
da cidade velha.


Pecado! Um pecado,
o pecado.
No meu tempo havia pecados:
pecado, pecadinho, pecadão!
E hoje?? Pecado??
Pecado não existe e o coração (que hoje também não existe mais)
dos jovens é triste ― enquanto tudo é vida
e o normal é sadio,
e o válido não é mais pecado:
pecadinho, pecadão. Adeus.

No meu tempo era presente sempiterno, eterno de vida,
que encontrei na próxima esquina.

Dizia:
e do esquema nem restou o próximo andamento;
o esquema que eu era passado, porque há anos
(de anos também se envelhece)
ali, na próxima esquina de duas velhas ruazinhas
encontrei o pecado.

Envelhecido esquema.
Roto sistema.
O jovem da esquina era poético teorema de vida,
teorema de esquinas,
sistemas de noite, com lampião ou lamparina, 
gás, querosene, carbureto,
o esquema passado que sou.
O esquema futuro que era.
Serei, talvez, uma antítese a qualquer esquina.

Esquina de travessas anciãs,
7 de Março e Regente Feijó -
podia rimar com "meu coração de criança só".
Era 7 de março.

 

Bryce Cameron 02.jpg

 
O pecado era de vermelho,
(o fogo se parece com vermelho)
o pecado era de macios e negros cabelos (compridos, compridos, como os das branca estátua grega do Museu do Louvre)
Aquelas proeminências... (Me esquecia o nome)...
(hoje sei que são seios...)
O pecado era... Só me lembro que o pecado era linda;
meu primeiro pecado e uma velha esquina.
Aonde duas ruazinhas de convergiam, chocavam, fundiam,
era uma esquina. No meu tempo).

Eram velhas, de casas dinásticas, como o falecido vovô Deodato,
mas se encontravam (faziam-no muito bem) e pareciam.
As duas ruas, na esquina velha, se amavam.

Parecia um abraço sempiterno,
parecia tão eterno como os "Mortos de Sobrecasaca" de Drummond.

Não era. Demolida a esquina.
Destroços saudosos (ou do pecado),
sem terno, com alma cheia de jovem que o amor descobre).
Há tantos anos, vovô Deodato:
"Crie juízo, Popé!"

Cheguei tarde em casa e já era 8 de março,
por causa da esquina.

Esquina de casas santas,
de dia iluminada, de noite escura.
Santos destroços de D. Pedro,
para mim, simples, meu encontro
com o pecado.

A impressão era que sob a lua
a esquina fosse bem mais velha do que sob o impacto do dia.
Era uma esquina gostosa só quando anciã de noite — de noite —
que para a noite fora encomendada pelos vovôs,
já de noites de anos eaporados de tantos dias.

Meu grande pecado!
(Ah, se o padre soubesse),
de noite e de dia, ficou para sempre.
Longe dos olhos,
longe de mim,
ficou-me sempiterna a esquina de duas ruazinhas velhas que se chocavam ali (na esquina).

Eu era um rebento, 
Senhor dos Passos,
de tantas novela irreplicáveis.

De manhã, no dia 8 de março, senti a esquina laboriosa debaixo de meus olhos aflitos, confusos,
irretrocedíveis como ela própria.
Eu (esquina, pecado),
não era mais inédito,
até o fim da vida.

Que lindeza, dizendo bem, Senhor dos Passos, bacana! A manhã seguinte do 8 de março.
Manhã inédita como eu fora, inédito.
Nem mais a lua o é,
nem mais o pecado o fôra,
nem mais aquelas montanhazinhas (os seios, descobri depois) o eram.
A mulher não era, então, mais inédita.

Se se tem oitenta anos, como vovô falecido, dizia ele,
tudo volta a ser inédito.

Um dia, o vigário soube e eu, sob um crucifixo, por detrás da cortininha roxa:
o pecado é lindo, padre,
como a manhã em que Cristo nasceu.

Na próxima esquina, com duas travessas escuras
(que se chocavam sem barulho),
encontrei o pecado,
no velho tempo
da minha cidade velha.

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