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Marcos Resende Amigos

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Juca Silveira - Elizabeth Savalla e Eu

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No tempo em que contracenava com Elizabeth Savalla, éramos ambos desconhecidos. Hoje, somente eu. Beth já era uma impressionante atriz aos 17 anos, quando estudávamos no Liceu Eduardo Prado. Era 1972 e o teatro era atividade extra-curricular. Para mim, certamente, muito mais interessante do que a curricular, as chatérrimas matérias do curso científico. Nossa professora era uma grande atriz, Lourdes de Moraes, que além de interpretação, nos ensinava disciplina, respeito ao público, devoção ao espaço do palco e à linguagem teatral. Foi uma grande mestra. Dela ouvi uma frase que sempre me acompanha: “Não existem pequenos papéis, existem pequenos atores”. Beth era o destaque de nossa companhia. Já era linda e cheia de talento. Parece incrível que, naquela turma, ainda tivéssemos mais um punhado de ótimos atores e atrizes, mas creio que nenhum deles tenha seguido a profissão. O Florestan Fernandes Junior e a Teresa Cristina de Barros seguiram a carreira de jornalistas. Da Olguinha, creio que Watanabe, nunca mais soube... O Pedro, de quem não consigo recordar o sobrenome, e o Edu Kakimoto eram também feras no palco. Eu até que me defendia e cheguei mesmo a pensar em ser ator. Em uma das peças que encenamos lá, a comédia As Desgraças de uma Criança, de Martins Pena, eu interpretava um velho babão apaixonado pela babá do neto (a Olguinha), contratada pela filha dele (a Beth). Noutra, O Crime da Cabra, de Renata Pallotini, encarnei um soldado bebum, apaixonado por Romilda (a Beth). 

Ensaiávamos por meses e fazíamos uma ou duas apresentações de cada peça. Eu tinha timing para fazer a plateia rir e comecei a me entusiasmar com a ideia de ser ator. Certo dia, alguém avisou que o Antunes Filho iria montar Ricardo III, de Shakespeare e fazia testes para atores novos... Cheio de esperanças, lá fui eu pro Teatro Maria Della Costa tentar um lugar no elenco. Ao chegar, uma fila de uns dez estava à minha frente. Logo atrás de mim chegou um rapaz muito simpático, e conversamos na fila enquanto aguardávamos nossa vez. Os testes eram rápidos e logo entramos no teatro. Quando chegou nossa vez, nos entregaram, juro, um pedacinho de papel parecido com uma filipeta, com uma frase para cada um. Era uma ponta!! Mas muito ponta!! Meu sonho de substituir Lawrence Olivier começava a naufragar. Uma linha... mas subimos ao placo, eu e meu amigo da fila. Dois soldados entram na sala do trono e eu dizia: "...os Guilfords, senhor! blá, blá..." nem havia o terceiro blá. O amigo: “e o Duque de York, senhor, blá”.

Antunes, no meio da plateia vazia, me reprovou de cara. Chiei, esperneei e ele me deu mais uma chance. Dei a fala de novo. Negativo... —- "Você, de óculos (eu), está liberado. O loirinho fica!" Inconformado, implorei por mais uma tentativa. Como eu poderia mostrar meu talento com cinco palavras??? Antunes, definitivo, encerrou a conversa: — "Quiéisso, rapaz!  Isso não é um anátema... É um teste para um papel para o qual você não serve..." 

Resignado, retirei-me. O loirinho aprovado era meu colega de fila, Herson Capri. Sábio Antunes... Como ator, ainda encenei mais uma peça, "Liberdade, Liberdade", de Flavio Rangel e Millôr, na faculdade. E encerrei de vez a carreira nunca começada. Era o anátema...

Se alguém de vocês encontrar a Elizabeth Savalla por aí, dê um beijo nela em meu nome. Ah, e se ela um dia quiser reencenar As Desgraças, posso voltar a fazer Abel, o velho baboso, sem precisar passar hipoglós na barba e talco nos cabelos!! E vamos ao teatro!

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 Diretor Antunes Filho

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                                     Juca Silveira                                      Herson Capri 

 

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09/01/2012

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