Jean Garfunkel - Aboiando
Aboiando
Brandos remanso
De rebanhos brancos
Futuando mansos
Sobre o céu do pasto
Clorofila flui
E a fartura escorre
Novelos de nuvens
Novilhas Nelore
Abracadabras
Meus abracadabras
São meras palavras
Que abrem estradas
De ser e pensar
Nas encruzilhadas
Das horas macabras
Escolho palavras
Pra me consolar
Palavras matreiras
Pedrinhas abstratas
São ilhas cercadas
De sertão e mar
Palavras parentes
Que complementares
Viajam aos pares
Sementes no ar
Palavras sereias
Palavras vulgares
Rabiscos na areia
Contas de um colar
Sagradas, cruzadas
Secretas, tabus
Palavras abjetas
Palavras de luz
O som e o sentido
Implícito explícito
Dependem do ouvido
Do destinatário
Um que de infinito
Vai subentendido
No armário embutido
Do vocabulário
Revigoro
Quando quero dou no couro
Quando amo eu revigoro
Quando o amor se vai eu choro
Feito boi no matadouro
Como um pássaro canoro
Comemoro o amor vindouro
Fada Sininho
Tu és a fada Sininho
Da minha Terra do Nunca
Eu sou um lobo baldio
Que ainda uiva pra lua
Sábia sereia no cio
Volta e meia te insnuas
Nas rotas dos naufrágios
Nas pedras da minha rua.
Arrasta, afoga, atordoa
Qual pororoca de rio
Enquant canta uma loa
Por meu coração sombrio
Tu és a fada Sininho
Porque a vida é uma aventura
Peter Pan voa sozinho
Se tivesse o teu carinho
Nunca mais diria nunca
Poemizar
Polinizar
Com o pó fecundo
Da beleza efêmera
A agonia extrema
Da palavra eterna
Que dorme no fundo
Escuro da caverna
Onde acaba o mundo
Onde a vida hiberna
Na raiz de tudo
No centro da Terra
Arde o conteúdo
Desta alma inquieta
De alegria e luto
Que gera o poeta
Afetuosamente
Eu sou afeito aos afetos
Que são feito anfetaminas
Fazem a menina dos olhos
Brilhar
Fortes abraços sinceros
Sorte de amor passageiro
Vida, palco, picadeiro,
Cantar
Eu sou avesso aos avessos
Ao calor humano
Por isso pago os meus preços
E às vezes me engano
Por ser afeito aos afeitos
Por ser fiel ao meu eu
Sigo sendo afetuosamente seu