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Marcos Resende Amigos

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Edson Renato dos Santos - Copa Opaca de PC a PCC

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Caí na besteira de revelar aos amigos que não torceria para a seleção brasileira. Quase fui linchado, sob a turba indignada, inconformada com a suposta falta de patriotismo. Sufocado pelo protesto, reivindiquei a liberdade de simpatizar com os modestos selecionados estrangeiros, despojados da embriaguez do favoritismo, e isentos da carência de motivos para ter orgulho de ser um cidadão do país que defendem. Foi em vão.
Justamente por ser brasileiro, e com visão privilegiada do cume da meia-idade, é que me vejo à vontade para trocar o verde e amarelo pelo preto fúnebre.
Quando criança, lembro-me da frase “Ano de eleição, mais um no Brasileirão”. Era a ditadura militar aliada à famigerada CBD — Confederação Brasileira de Desportos —, à época, sob comando do almirante Heleno Nunes.

Mais tarde, já desfrutando dos debates acadêmicos, tomei nota de que, nos anos 70, a “Nação Corintiana” fazia a produção das fábricas do ABC paulista despencar entre dez e quinze por cento nos dias que sucediam a derrota alvinegra num clássico. Pelé fez uma guerra parar na África; recentemente, Ronaldo Fenômeno e companhia conseguiram algo parecido no Haiti. Enfim, o futebol é mesmo o ópio do povo — sem exclusividade tupiniquim.

Confesso, que palmeirense de coração e alma, pouco me alegra falar do esporte bretão nos últimos tempos. Mas, tenho um mínimo de lucidez para vislumbrar o prejuízo que um hexacampeonato pode trazer à história contemporânea, ao sul do Equador.

A memória do brasileiro é proporcional à sua disposição para mudar e exigir mudanças em favor da sociedade como um todo. Só para limitar a retrospectiva em poucos anos, vamos pegar como ponto de partida o “Esquema PC”. O que aconteceu na política desde então? Collor caiu, os anões do orçamento saíram do Congresso, outros foram cassados e... Bem, poucos realmente se deram tão mal quanto mereciam. Talvez Paulo César Farias soubesse demais e deram um fim nele — como o legista alagoano George Sanguinetti sugeriu sem alcançar crédito para reabertura do caso.

Depois tivemos Jorgina, que desviou 600 milhões de dólares do INSS, dos quais apenas 15% foram recuperados. Tem o caso do Palace II. Apesar da tragédia e das famílias desabrigadas, nosso ex-deputado Sérgio Naya foi flagrado tomando champanhe na Flórida e, depois, acabou absolvido.

Aí veio o Lalau, que desviou mais 160 milhões de reais — o Fórum Ruy Barbosa foi inaugurado e nada se fala em reembolso da grana surrupiada. Os milhões de Maluf na Suíça, os milhões de Pitta no Caribe, Waldomiro Diniz, Mensalão, Sanguessugas... Chegaaaa!!!

Claro que eu também me aborreço com tantos escândalos. Mas, a melhor maneira de se livrar dos problemas é enfrentá-los; nada de ficar adiando, se ajustando ao desconforto que eles provocam. Só que quando parece que tudo de ruim já havia dado as caras ou vozes em jornais e escutas, eis que Marcola decide virar celebridade. Pior! A estréia da grande produção do medo é marcada justamente para a antevéspera do Dia das Mães. Que “filho da mãe”.

Com o coração na boca, a bílis borbulhando, a cabeça atordoada... E querem que eu tenha uma síncope carnavalesca temporã. Tá tudo uma droga, mas a mídia estabeleceu que durante um mês eu sorria, me vista de verde-amarelo e ouça o Galvão Bueno tendo orgasmos ao narrar “Rrrrronaldinho!!!”.

Brincadeira tem hora, mas não exagera! Não dá para ficar feliz por convenção. A alegria e espontaneidade de nosso povo é uma virtude, sim. Só que não precisa banalizá-la na carona das atrocidades lançadas na vala comum, como a violência, o desrespeito, a deslealdade, o egoísmo e a ganância que nos faz reféns dos maquiavélicos e inescrupulosos.

Imagine que circula a piadinha — cheia de ironia, claro — lançando Marcola para presidente. Veja:
 

COMEÇA HOJE A CAMPANHA MARCOLA PRESIDENTE!
Vamos aos fatos. Só em 3 dias, entre tantas coisas, ele:
 
01.
Reduziu o trânsito;

02.
Tirou os camelôs das ruas;

03.
Reduziu a carga horária de trabalho (sem reduzir o saldo do final do mês);

04.
Aumentou o contingente de policiais nas ruas;

05.
Mobilizou os deputados;

06.
Aumentou o poder da fé entre as pessoas;

07.
Potencializou o ambiente para uma subida do dólar e auxílio aos ex-portadores;

08.
Permitiu que as famílias jantassem juntas, tirando as crianças da rua e os jovens da noite;

09.
Baixou a taxa de roubos;

10.
Uniu opositores na briga por um mesmo objetivo;

11.
Fez os direitos humanos e o ministério público visitarem as prisões;

12.
E acabou com a revolta...

Sem contar que ele assume que é ladrão e não propõe acordo nem dança comemorando a pizza... Bom, se do celular, escondido e sob ameaça física fez tanto, imagina do gabinete!

Se o brasileiro não reagir, vai faltar alegria para rir de seu próprio humor. Além do mais, não bastasse tanta desgraça — de PC a PCC —, o mais apaixonado torcedor não deve se esquecer de que, a cada boa campanha brasileira na Copa, nossos craques são exportados mais precocemente.

Tem criança de 7 anos com contrato assinado — pelos pais — para jogar lá fora. Quer dizer, na globalização, a gente vai ter que comprar pacote de pay-per-view — à custa de muitos dias de trabalho — para assistir aos brasileiros desfilando pelos campos europeus e asiáticos.

Por essas e por outras, não torci pelo Brasil. Quem sabe seja esta a grande chance do mundo da bola fazer seu desagravo a Zico, o último craque dos meus tempos de menino, quando futebol era um excelente lazer. Dá-lhe Japão, dá-lhe Portugal, dá-lhe Alemanha, e — para não parecer tão racional — dá-lhe Itália — afinal o Palestra não existiria se não fosse i oriundi.

 

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