Deunice Andrade - Insólito
Esquece o que não importa
desapega dos hipócritas.
Afoga a mágoa na poesia que fenece.
Esquece quão miseráveis são os fracos,
em sua mendicância retumba.
Faze esperança em densas nuvens;
Queima a pele com a febre da justiça.
Floresce a sombra do espanto;
Atormentado mundo arqueia a flecha.
Negligência dispersa em mil faces,
arrastando tantos em guerra inútil.
Por que carece do lema insólito?
Permite proteção onde mora o sonho;
Bebe da fonte de água viva.
Cai a lágrima vertida derradeiro choro;
O sal queima os pés em nu deserto.
O doce em breve exala em bocas gemidas.
Brisa, brisa, brisa...
Arrasta-me contra esse miserável tempo.
Rememorado soa estranho a rosa dos ventos;
Gira, gira, gira...
Cobrindo-me com pó lambido.
De todo canto, ouço o canto do casto homem.
Anda depressa antes que Deus desista;
Antes que o juiz se renda à palmeira da injustiça.
Luz do dia secando mananciais;
Luz da noite cobrindo verdade oprimida geme!
Oh que agonia a terra trincada é pele fissurada.
Sangue que não satisfaz se junta à lama.
E o mundo não para no tempo que se faz de pedra.
Esculpido pelo brado do homem encarniçado;
Cuspido pelo espanto que sai da fala.
Onde está a calmaria senão em outra sucessão?
Homem seca o choro da terra mostra-lhe a nudez.
Em sua fragilidade diante ao desalento;
Está mais nu do que os pés descalços.
Está mais nu do que os objetos enxergados sem mistérios.
Agora mora na genitália exposta a reprodução do mundo.
E todos poderão ver a fertilidade dos atos,
Potência e impotência à nua realidade à mostra.