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Marcos Resende Amigos

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Chico de Assis - A Talagada

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A Talagada

Estava em um botequim fazendo hora. Foi então que reparei que entrou no local um trabalhador da construção civil com uma velha camisa rasgada da Universidade de Colúmbia e uma calça suja de cimento e cal. Nos pés, sandálias havaianas. Tinha os cabelos molhados de uma chuveirada recente.
Ele chegou, esfregando as mãos como que para esquentar. Ergueu o dedão pra cima e o dedinho pra baixo, na direção do português do botequim. Português bateu no balcão o copinho como um martelo e ágil derramou até um pouco acima da linha de dose uma cachaça transparente. O trabalhador deu três ou quatro voltas no copinho e depois soltou e deu um passo para trás. Com um gesto largo e um sorriso ofereceu a todos no botequim. Daí enlaçou o copinho com três dedos da mão direita, espichou o pescoço como se oferecesse ao carrasco. Colocou a palma da mão esquerda sobre o peito e num brusco movimento levou a cabeça para trás bebendo a talagada. Bateu o copinho como um martelo na volta. Meteu a mão no bolso e pagou. Passou as costas da mão sobre os lábios. Fez um cumprimento geral e se foi esfregando as mãos. 
Fiquei louco por uma talagada daquelas. Pedi ao português. Ele bateu o copinho. Eu virei a pinga e um gosto amargo e forte ofendeu a minha boca. Prazer nenhum. Daí refleti que para ter aquele mesmo prazer, eu teria que ter passado a infância no cabo da enxada, lutando contra terra seca. Depois ter fugido de lá num pau de arara e comido o pão que o diabo amassou, até ter uma profissão. Daí, depois, de um dia de sentar tijolo oito horas seguidas, tomar um chuveiro frio e tomar o néctar dos deuses.

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