Célio Segundo Salles - O Grande Dia
Um dia virá em que todos os desaforos deixarão de sê-lo.
Já não existirão mais nem os desaforados,
nem os desaforantes.
As palavras insensatas,
pronunciadas apressadamente, e, talvez, inpensadamente,
não encontrarão mais eco.
Ter-se-ão perdido nas imensidades do espaço e do tempo.
Os ouvidos que as ouviram,
também já se terão perdido nos cemitérios
ou nos crematórios...
A altivez do potentado
ou o rosto bonito da mulher orgulhosa,
também não mais darão ares de graça ou de vida.
Os risos sarcásticos,
ou o riso irônico;
o sorriso hipócrita e a fisionomia fingida,
também não serão lembrados.
Porque será mesmo impossível,
sequer permissível
pensar que tenham existido.
E nesse grande dia,
com a força irradiadora da pureza contra a impregnação,
será ouvido o riso da verdadeira graça,
será visto o sorriso da verdadeira simpatia...
Serão ouvidas as palavras de calor, de humanidade,
proferidas por lábios que não serão de matéria perecível;
lábios que serão vistos por olhos que nunca se cerrarão;
e que estarão debaixo de cabelos que nunca cairão!
E eu estarei lá!
Conseguirei a grande façanha, a grande trajetória,
usando o combustível do ódio,
do desprezo,
da hipocrisia,
da vileza,
do orgulho,
da cegueira,
da alergia,
do nojo que alguém sente por alguém...
Misturado com o amor,
a atenção,
a sinceridade,
a fidalguia,
a humildade,
a modéstia,
a visão,
a simpatia,
a afeição que alguém tem dedicado a alguém.
E nesse grande dia, eu estarei lá!