Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Marcos Resende Amigos

Marcos Resende Amigos

Arley Pereira - Saideira

Arley Pereira 02.jpg

  Índice Amigo ◦ Índice Geral


Do alto do meu cinquentenário, olho para esta geração fin-de-siècle e tenho pena. Separando a história do mundo, do país, da cidade, em fatias-décadas é fácil chegar à conclusão de que está é a mais pobre de todas. Em todos os sentidos. E proponho um joguinho para provar isso, aos mais velhinhos ou mais jovenzinhos pouquinha coisa; um pequeno balanço onde nomes poderão ser lembrados, mostrando como a qualidade de vida despencou em todos os setores, ficando claro que não se deve estranhar a reação de um jovem ao desconhecer o nome de um Orlando Silva, ou mesmo de uma Elis Regina. O prato servido à sua geração mal dá para matar a fome. Não exijamos refinamentos gastronômicos, pois, no meu jogo — e vocês farão os seus — fica fácil concluir pelos nomes, cargos e situações apontados (e escolham aleatoriamente os seus) como éramos felizes e não sabíamos. E como eles são infelizes e não sabem.

Por exemplo, na minha infância o Presidente da República era um estadista chamado Getúlio Vargas; depois tive um idealista chamado Juscelino e hoje estamos sob um esportista que atende por Collor. Meu governador era Carvalho Pinto, passei por Laudo Natel e desaguei em Orestes Quércia. Cresci com Prestes Maia urbanizando a cidade; Faria Lima seguiu o mesmo caminho e estamos agora com a Sra. Tarifa Zero no cargo. Frequentei o Teatro Santana na rua 24 de maio, maravilhei-me com a revolução do Teatro Brasileiro de Comédia e hoje sou informado que Por Trás É Que Elas Gostam, no Teatro Odeon, da Rua Aurora.

Quantos musicais a tela do luxuoso Metro me mostrou, quanto conforto nas poltronas do Marrocos! Mas hoje as goteiras dão banho em quem entrar no Windsor... Vi Leônidas da Silva fazer gols de bicicleta, vi Pelé fazê-los de todas as maneiras; hoje resta Neto de bola parada. Na cidade havia Rolls-Royces alguns, Cadillacs muitos; aguardamos a performance do Lada... Angelim e Algodão faziam cestas, Amaury e Wlamir eram campeões do mundo; para sobreviver, o Oscar tem de jogar no exterior.

O “Peixe-Voador” Tetsuo Okamoto devorava piscinas, antes de Manuel dos Santos; flutuará hoje o Michelena? São Paulo tinha a finesse do Bar Viaduto, a boêmia do Jeca, hoje uma casa de sucos. Orlando Silva era o “Cantor das Multidões”; Cauby, o timbre mais bonito da MPB, que hoje ouve Lobão. Elizeth Cardoso era Divina; Elis, Insuperável; o que será Rosana? Cartola fazia “As Rosas Não Falam”, Chico Buarque, “Construção” e hoje nos melamos com Sullivan & Massadas.

Nas telas do cinema, Rodolfo Valentino abria caminho para Clark Gable: a picada acaba em Stallone! Dulcina era a grande dama do teatro, antes de Cacilda Becker; em cartaz hoje, Alice Di Carli. Lima Duarte fazia "Hamlet" na tevê, Juca de Oliveira surgia, sem ninguém pensar em Mário Gomes...

Está aí o joguinho. Para se jogar em grupo ou sozinho. Desgraçadamente, não haverá vencedores. Todos nós perdemos.

03. Arley Pereira.jpg

Dezembro, 1990 

Índice Amigo ◦ Índice Geral

Amigos

  •  
  • Pesquisa:

     

    Marcos Resende